Este mês, o Dr. João Avelleira, do Departamento de DST e AIDS, nos traz o tema “A vacina nonavalente para HPV”. Vamos à leitura:
A disponibilização de uma vacina que amplia a proteção contra outros tipos de HPV com potencial oncogênico é uma realidade em muitos países. A vacina nonavalente (9HPV), além dos tipos 6, 11, 16 e 18, é capaz de proteger contra os tipos 31, 33, 45, 55 e 58, aumentando a eficácia da prevenção desde a infecção latente até a do carcinoma ano-genital e orofaringeal.
As taxas de incidência estimadas e de mortalidade do câncer de colo útero no Brasil para cada ano do triênio 2020-2022 serão de 16.590, com um risco estimado de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres. Valores considerados intermediários em relação aos países em desenvolvimento, porém elevados quando comparados aos países desenvolvidos. Em nosso país, embora as atividades de prevenção utilizem um exame com boa especificidade na detecção do câncer de colo, como o Papanicolau, e com cobertura razoável em quase todo o território nacional ( 79%) mas ainda abaixo do ideal (85%), não se tem conseguido impactar um declínio mais acentuado do número de casos e de óbitos, indicando que a vacinação é a uma das estratégias a ser utilizada para alterar esta situação.
No Brasil, a vacina quadrivalente (4HPV) encontra-se, desde 2007, disponível no mercado privado e, desde 2014, foi incorporada no calendário vacinal para meninas de 9 a 14 anos, meninos de 11 a 14 e para ambos os sexos de 15 até os 26 anos, quando portadores de algum tipo de imunossupressão.
A substituição para a 9HPV parece oferecer claros benefícios, como demonstram os grupos engajados na luta contra as IST’s, e é desejada, desde que tenha viabilidade econômica e desde que não seja vista como uma substituição ao rastreamento do câncer do colo do útero, pelo Papanicolaou, que precisa ser aperfeiçoado e reforçado; importante também que não haja nenhum arrefecimento das campanhas educativas de estímulo ao uso de preservativos masculinos ou femininos, que são essenciais para prevenir todas as infecções sexualmente transmissíveis.
Por outro lado, seja a 4HPV ou a 9HPV, todas necessitam de mais de uma dose, o que é um entrave à adesividade e o Brasil tem números desafiadores na cobertura vacinal contra o HPV. Dados do Ministério da Saúde de 2019 mostram que a cobertura da vacinação nas meninas está em 51,5%. Para os meninos, a vacina foi introduzida em 2017 e o índice foi ainda mais baixo: 22,4% até junho. Em ambos os casos, a realidade está muito aquém da meta de 80%.
Vários fatores, como a vacina não ser dose única, desinformação sobre efeitos adversos, campanhas sobre um suposto estímulo da vacina ao início mais precoce da atividade sexual, são obstáculos a serem superados para que possamos avançar na luta contra o HPV e na prevenção o câncer.