Este mês, a Dra. Regina Casz Schechtman, coordenadora do nosso Departamento de Micologia e também coordenadora médica do RioDermatológico, traz a análise de caso apresentado em recente artigo por pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz. Vale muito a leitura:
“Em recente artigo publicado no Mycopathologia em junho de 2019, um grupo de pesquisadores do INI/Fiocruz relata um caso de paracoccidioidomicose, diagnosticado inicialmente como micose subcutânea.
O presente relato de caso destaca o papel do diagnóstico diferencial de micoses que afetam a pele, principalmente nos casos em que a pele pode ser o primeiro sinal de uma doença sistêmica.
Paciente masculino de 35 anos, agricultor, de uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, Brasil, foi encaminhado ao hospital relatando um ano lesão no dedo diagnosticada clinicamente como esporotricose. Na admissão, ele apresentou uma ulceração superficial extensa e dolorosa em seu quarto quirodáctilo direito. Foi realizada biópsia de pele e Paracoccidioidomicose (PCM) foi diagnosticada pelo exame micológico direto, histopatologia, isolamento de fungos em cultura. A radiografia de tórax não revelou anormalidades pulmonares; contudo, a tomografia computadorizada mostrou reticulação e leve infiltrado no lobo superior direito. A radiografia da mão direita não mostrou lesões líticas. Itraconazol foi prescrito, mas uma erupção cutânea ocorreu 5 dias após a introdução da medicação. O cotrimoxazol foi prescrito por 24 meses e o paciente progrediu com cura clínica, sorológica e radiológica.
Os autores atentam o leitor para o fato de que o diagnóstico clínico inicial foi de esporotricose. Como o paciente apresentou reação alérgica ao itraconazol, este diagnóstico incorreto de esporotricose poderia ter levado à prescrição equivocada de terbinafina, em vez de cotrimoxazol, dificultando a melhoria da lesão e prolongando a doença. Segundo os autores, o envolvimento cutâneo foi a primeira e principal apresentação clínica da PCM, neste caso, desempenhando papel importante no diagnóstico. A esporotricose foi considerada como possível diagnóstico devido ao aspecto clínico da lesão, mas também devido a características epidemiológicas, como a grande epidemia de esporotricose ocorrendo no Rio de Janeiro desde 1998.”
Mild Paracoccidioidomycosis Misdiagnosed as a Subcutaneous Mycosis. Priscila Marques de Macedo, Dayvison Francis Saraiva Freitas, Leonardo Pereira Quintella, Rosely Maria Zancope´-Oliveira, Rodrigo Almeida-Paes, Antonio Carlos Francesconi do Valle. Mycopathologia 2019,184 (3): 455-456. https://doi.org/10.1007/s11046-019-00343-w