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Pílula do Conhecimento

Este mês, o nosso quadro é com a Dra. Gisele Seabra, do Departamento de Cirurgia e Oncologia da SBDRJ, que nos traz o tema ‘Abordagem do Carcinoma Basocelular Superficial (CBCS) em áreas de alto risco’

Vamos à leitura:

Os carcinomas basocelulares superficiais (CBCS) tradicionalmente são considerados tumores de baixa agressividade, geralmente indolentes e multifocais com mínima ou nenhuma invasão dérmica. Compreendem cerca de 17 a 30% de todos os Carcinomas Basocelulares (CBC). Pelas suas características clínicas e histológicas, o CBCS é abordado muitas vezes com tratamentos cirúrgicos e não cirúrgicos, como cirurgia micrográfica, curetagem (isoladamente ou em associação com eletrodissecção, criocirurgia ou imiquimod), criocirurgia, imiquimod e 5-fluoracil isoladamente.

O risco de progressão e recorrência é considerado baixo em todos os sítios anatômicos, apesar de mais de 20% das biópsias por punch que são totalmente seriadas e mais de 50% dos espécimes cirúrgicos mostrarem focos de subtipos mais agressivos nas biópsias finais. Este é um fenômeno conhecido como histologia mista (HM). Estudos anteriores mostram que este fenômeno acontece entre 32 a 40% de todos os CBC. Existem poucos estudos comparando o comportamento biológico dos CBC de baixo risco dos demais CBC e a presença de HM nos CBCS especificamente.

Recentemente, Petersen ET e Ahmed SR defendem a indicação de cirurgia micrográfica para os carcinomas basocelulares superficiais em áreas de alto risco, após agrupar os casos por sítio anatômico e pelo status imunológico do paciente.

Os autores selecionaram os casos com biópsias de CBCS sem nenhum outro tipo histológico associado na biópsia inicial e submetidos à cirurgia micrográfica de Mohs entre 2008 a 2018. A histologia dos casos foi revista e posteriormente os pacientes foram agrupados em imunocompetentes ou imunocomprometidos, sendo os últimos os transplantados de órgão sólido, portadores de neoplasias hematológicas ou de imunossupressão provocada por drogas. E por último, separados em áreas de alto, médio e baixo risco. Sendo que:

Área H (High risk – alto risco): área central da face, pálpebras, sobrancelhas, nariz, lábios, mento, orelhas, sulco pré auricular, região temporal, mãos, pés, tornozelos, genitália, mamilos e aparato ungueal.

Área M (Medium risk – médio risco): região malar, fronte, couro cabeludo, pescoço, região mandibular e região pré tibial

Área L (Low risk – baixo risco): tronco e extremidades (exceto as da área H)

Ao final, os CBCS nas áreas H e M, incluindo todos os pacientes, demonstraram ter 73% e 65% de tipos histológicos mistos, respectivamente. Quando se separam os pacientes imunocompetentes dos imunocomprometidos, essa diferença fica ainda maior. Entre 69% de tipo histológico misto na área H e 64% na área M nos imunocompetentes e entre 85% na área H e 73% na área M nos imunocomprometidos.

Os autores acharam uma taxa maior de HM do que já relatado na literatura. Esses achados mostram que os CBCS nas áreas de alto risco (H) e de médio risco (M) têm indicação de cirurgia micrográfica de Mohs, já que a maioria destes tumores tem na realidade um componente nodular ou de alto-risco associado (64% no melhor cenário e 73% no pior cenário) e valida a indicação de cirurgia micrográfica nos tumores primários nestas localizações.

Bibiografia

Petersen ET, Ahmed SR, Pradhan D, MacFarlane DF. Superficial Basal Cell Cancers Demonstrate Higher Rates of Mixed Histology on High-Risk Anatomical Sites. Dermatol Surg. 2020;46(6):747-751

Steinman HK, Dixon A, Zachary CB. Reevaluating Mohs Surgery Appropriate Use Criteria for Primary Superficial Basal Cell Carcinoma. JAMA Dermatol. 2018;154(7):755-756.

Cohen PR, Schulze KE, Nelson BR. Basal cell carcinoma with mixed histology: a possible pathogenesis for recurrent skin cancer. Dermatol Surg. 2006;32(4):542-551.

Ghanadan A, Abbasi A, Rabet M, Abdollahi P, Abbasi M. Characteristics of Mixed Type Basal Cell Carcinoma in Comparison to Other BCC Subtypes. Indian J Dermatol. 2014;59(1):56-59.