RIO — O belo cenário da orla carioca esconde perigos para os banhistas. Um levantamento feito pela prefeitura mostra que, em 2014, muitos trechos de areia ficaram impróprios devido à contaminação por fezes de animais, restos de comida e outros detritos deixados pelos próprios frequentadores. De acordo com o estudo, os dez piores lugares para os banhistas no ano passado foram Guaratiba; Guanabara (na Ilha do Governador); Quebra-Mar (na Barra); Copacabana (na altura da Rua Souza Lima); Pepê (Barra); Urca; Praia da Bica (Ilha); Arpoador; Ipanema (no trecho da Rua Maria Quitéria) e o Piscinão de Ramos. Já as dez melhores praias foram Pontal; Macumba; Prainha; Ramos; Vermelha; Moreninha (Paquetá); Ipanema (em frente à Rua Paul Redfern); Barra de Guaratiba; Engenhoca (na Ilha) e Barra (na altura do Condomínio Barramares).
O monitoramento, feito pela Secretaria municipal de Meio Ambiente, dentro do programa Areia Carioca, analisa 35 trechos de praias do município. As que têm movimentação intensa durante todo o ano são as que apresentam maiores índices de contaminação pela bactéria Escherichia coli e por coliformes fecais.
LÍNGUAS NEGRAS NÃO ENTRAM NO ESTUDO
Para ser considerada ótima, por exemplo, a areia deve apresentar até dez mil coliformes fecais por cem gramas. Já os trechos não recomendados registram níveis acima de 30 mil por cem gramas.
Segundo Vera Oliveira, coordenadora de monitoramento ambiental e responsável pelo Areia Carioca, a área analisada é a faixa seca próxima à água, justamente o local preferido por crianças e idosos.
— Não queremos que a análise sofra influência direta do sol nem da água do mar, que são agentes saneantes. Fazemos a coleta de amostras entre 6h e 9h. E não analisamos trechos de línguas negras, pois a contaminação é óbvia. O carioca deveria ter prazer de manter a praia limpa. É a casa dele. As pessoas não pagam nada para frequentar essa bela área de lazer — comentou Vera.
Viviane Oliveira, que mantém o espaço Ipabebê, na altura da Rua Joaquim Nabuco, em Ipanema, também culpa os frequentadores pela má qualidade da areia. No espaço reservado para crianças brincarem, ela não permite que as pessoas comam e sequer chupem picolé.
— Não coloco a culpa nos cachorros. Os grandes vilões são os frequentadores que acham que a praia é a lixeira da casa deles. E, nesta época do ano, o movimento é intenso até durante a noite. A Comlurb faz seu trabalho diário, deixa a praia limpa — disse Viviane.
Uma das praias mais frequentadas da orla, o Arpoador ficou em oitavo lugar entre as dez piores de 2014. O ponto de coleta para o monitoramento — em frente ao Parque Garota de Ipanema — esteve 29% do ano passado com a areia considerada imprópria. Em Ipanema, nona no ranking das mais sujas, o trecho em frente à Maria Quitéria ficou impróprio 25% do tempo.
No Leblon, dois trechos são analisados. Um é na altura da Avenida Bartolomeu Mitre, que ficou em 13º lugar entre os melhores de 2014. O outro é em frente à Avenida Visconde de Albuquerque: ele ficou em 17º lugar entre os piores. O ponto onde fica o Baixo Bebê, espaço reservado para as crianças, não tem uma análise específica, mas a proximidade com a Bartolomeu Mitre serve para tranquilizar os pais.
O dermatologista Egon Daxbacher, vice-presidente da Sociedade de Dermatologia do Rio, ressalta que a contaminação da areia por fezes de animais e restos de alimentos provoca a proliferação de parasitas e fungos, que causam problemas de pele, como micoses e dermatites:
— As pessoas devem evitar ficar nos trechos de areia próximos ao calçadão, por onde circulam animais. Outro trecho ruim é ao lado dos quiosques, onde pode haver restos de comida, que atraem pombos e até ratos. O melhor é não ter contato prolongado diretamente com a areia. Os banhistas devem usar toalhas ou cangas para se sentar, por exemplo. Ao sair da praia, devem lavar bem os pés. Quanto à melhoria da qualidade da areia, é preciso haver maior conscientização dos frequentadores.
A Comlurb informou que a Operação Praia Limpa, iniciada no ano passado, será mantida até o fim deste verão com 614 garis e 2.178 contêineres na areia, além dos que estão no calçadão. Segundo a empresa, a maior parte do lixo recolhido é composta por itens como canudinhos, palitos de picolé, espetos e papel laminado de sanduíches.
PAINÉIS INFORMARÃO BANHISTAS
Por enquanto, cariocas e turistas não sabem os trechos impróprios, mas isso deve mudar. Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (Inea), as praias fluminenses serão todas sinalizadas em até um ano, com painéis eletrônicos informando as condições de balneabilidade e a qualidade da areia.